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Nelson Dellagiustina

CULTURA DO TABACO E DO FUMO

Nas terras férteis de montanha plantava-se o tabaco de corda e também para fazer fumo. Era uma fonte bastante rendosa para as famílias. Como faziam essa lavoura?

As sementes eram fornecidas pelas companhias fumageiras da região do Vale ou extraídas pelo próprio colono de colheitas anteriores de sua própria plantação. As sementes eram espalhadas num canteiro, devidamente preparado e que exigia trato especial. Era necessário cobri-las com um pano branco (vêl) de vez em quando.

As mudas, quando prontas, eram transplantadas no terreno previamente preparado na roça. Havia os cuidados da capina e da poda das flores (búti) para maior rendimento das folhas no pé. Um técnico da companhia fumageira, de tempos em tempos acompanhava a plantação. O maior perigo para a plantação era a chuva de granizo (tompésta) que ocasionalmente podia ocorrer, mas que graças a rezas e novenas e a colaboração de São Pedro pouco acontecia.

A colheita era feita em três etapas: o baixeiro, a metade da folha (que era de melhor qualidade) e o ponteiro. Bem cedo (vánti dí) realizavam a colheita, pois o tabaco exposto ao sol queimava facilmente e a época da colheita era no verão causticante. As mãos ficavam impregnadas com uma cera preta, a nicotina de um gosto muito amargo, grudento e difícil de tirar. Ao comer o café da manhã que era feito na roça (colassiôm), a comida tornava-se amarga (smarezénta).

Depois de colhido, era levado ao rancho, transportado com zorra (slita) ou carroça. Como procediam, então? E a secagem?

Com o auxílio de agulhas de metal, largas, do tamanho de 30 cm mais ou menos, e cordas extraídas de tronco de árvores (embiras), cordas de tronco de bananeira e taquarão, furavam as folhas no tronco superior e junto passava a corda, formando uma tira (físsa) de aproximadamente 1,50 m. A esse processo o colono italiano chamava de "enfissár tabác". Aproveitavam o tempo logo após o almoço, sentados embaixo dos ranchos, para esta tarefa.

Terminado este trabalho, essas tiras eram penduradas nos ranchos, estrebarias (stále), chiqueiros (stalóti), poleiros (polinári) e às vezes até dentro da casa de moradia, pois ocupavam muito espaço. Usavam pequenos pregos (tchioldéle) para sustentá-las nos caibros (cantêri). Mais tarde é que descobriram a técnica de construir ranchos com estaleiros.

Depois da secagem completa das folhas, o que demandava um bom tempo, o tabaco era recolhido e guardado empilhado no rancho onde não podia ser molhado. Quando empilhado seco, separavam as três colheitas: o baixeiro, o médio e o ponteiro.

Depois de terminada a colheita iniciava-se a escolha das folhas (sernir tabac) classificando-as conforme a qualidade. Em pequenos feixes (massóti) eram feitos fardos e vendidos às empresas fumageiras de Timbó e Blumenau.

A maior produção de tabaco de corda era no bairro Diamantina (Pico). Quem transportava o tabaco para Blumenau era o Sr. Michele Pintarelli com o seu possante caminhão no toco, ultrapassando às vezes o limite de altura. (Per mirácol de Dio e co la gracia de la Madona de Loreto, mai batu em dei fili de força ou qualque pianta).

O pagamento era feito por arroba (rúba) e o preço (préssi) de acordo com a qualidade. Havia várias classificações. O farelo também era aproveitado e vendido.

 Cultivava-se também o tabaco de estufa, de uma forma diferente do tabaco de corda. Plantava-se em maior quantidade e a secagem era feita dentro da estufa de tijolos.

O processo de formação do fumo de rolo é diferente. O método de plantar é o mesmo. O fumo dá em pés mais baixos e a folha é diferente da do tabaco de corda.

 As folhas eram separadas do talo e enroladas em paus formando uma grande trança. Exigia muito trabalho e cuidados especiais. Era desenrolado e enrolado várias vezes. Soltava um líquido espesso e escuro.

Também era separado conforme a colheita: baixeiro, médio e ponteiro, resultando daí a qualidade do fumo, forte, fraco ou moderado.

Quando pronto era envolto em palha de milho e cordas e vendido em rolos ou pedaços. O fumo não podia perder a umidade e nem secar. Todos preferiam um fumo bom e que não secasse quando picado para fazer os famosos palheiros.

Hoje ainda há colonos em Rodeio que fabricam fumo artesanal, em menor escala, para o consumo próprio ou para vender a amigos. Béi tempi!


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